quinta-feira, 28 de março de 2013

ORACIÓN POR ANTONIO MACHADO




Misterioso y silencioso
iba una y otra vez.
Su mirada era tan profunda
que apenas se podía ver.
Cuando hablaba tenía un dejo
de timidez y de altivez,
y la luz de sus pensamientos
casi siempre se veía arder.
Era luminoso y profundo
como hombre de buena fe.
Fuera pastor de mil leones
y de corderos a la vez.
Conduciría tempestades
o traería un panal de miel.
Las maravillas de la vida
y del amor y del placer
cantaba en versos profundos
cuy o secreto era de el.
Montado en un raro Pegaso
un día al imposible fue.
Ruego por Antonio a mis dioses.
Ellos le salven siempre.
Amén.




ORAÇÃO POR ANTONIO MACHADO
Misterioso e silencioso
ia uma ou outra vez.
Seu olhar era tão profundo
que apenas se podia ver.
Quando falava tinha um jeito
de timidez e de altivez,
e a luz de seus pensamentos
quase sempre se v ia arder.
Era luminoso e profundo
como homem de boa fé.
Foi pastor de mil leões
e ao mesmo tempo de ovelhas.
Conduziria tempestades
ou traria um favo de mel.
As maravilhas da vida
e do amor e do prazer
cantava em versos profundos
cujo segredo era dele.
Montado em um raro Pégaso
um dia ao impossível foi.
Rogo por Antonio a meus deuses.
Que eles sempre o protejam.
Amém.





O poeta nicaraguano Rubén Darío (1867 -1916), que marcou sua vida literária na Espanha, antecedeu Antonio Machado nas lides da poesia. Oito anos mais velho que Machado, morreu antes de seu amigo, mas lhe deixaria uma oração ainda em vida. Quando Rubén Darío partiu, foi a vez de Antonio Machado lhe dedicar uma oração poética.

terça-feira, 26 de março de 2013

A DON MIGUEL DE UNAMUNO




Este donquijotesco
don Miguel de Unamuno, fuerte vasco,
lleva el arnés grotesco
y el irrisorio casco
del buen manchego.

Don Miguel camina,
jinete de quimérica montura,
metiendo espuela de oro a su locura,
sin miedo de la lengua que malsina.

A un pueblo de arrieros,
lechuzos y tahúres y logreros
dicta lecciones de Caballería.
Y el alma desalmada de su raza,

que bajo el golpe de su férrea maza
aún durme, puede que despierte un día.

Quiere enseñar el ceño de la duda,
antes de que cabalgue, el caballero;
cual nuevo Hamlet, a mirar desnuda
cerca del corazón la hoja de acero.

Tiene el aliento de una estirpe fuerte
que soñó más allá de sus hogares,
y que el oro buscó tras de los mares.
Él señala la gloria tras la muerte.
Quiere ser fundador, y dice: Creo;
Dios y adelante el ánima española…
Y es tan bueno y mejor que fue Loyola:
sabe a Jesús y escupe al fariseo.


A DOM MIGUEL DE UNAMUNO


Este donquixotesco
dom Miguel de Unamuno, forte basco,
leva o arnês grotesco
e o irrisório casco
do bom manchego.

Dom Miguel caminha,
ginete de quimérica montadura,
riscando espora de ouro na vã loucura,
sem receio da língua mais mesquinha.

A um povo de arrieiros,
farsantes, jogadores, trapaceiros,
dá lições de Cavalaria.
E a alma desalmada de sua raça,
que sob o golpe de sua férrea maça
ainda dorme, pode despertar-se um dia.

Quer ensinar o olhar sisudo
antes de que cavalgue, o cavaleiro;
qual novo Hamlet, a mirar desnudo
perto do coração o aço do armeiro.

Tem o alento de uma estirpe forte
que sonhou além de seus lares,
e que o ouro buscou por trás dos mares.
Ele assinala a glória atrás da morte.
Quer ser fundador, e diz: meu
é o amor a Deus e à alma espanhola…
E é tão bom ou melhor do que Loyola:
sabe a Jesus e cospe ao fariseu.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Os caminhos de Antônio Machado




Antonio Machado, dramaturgo e poeta espanhol, fez parte do movimento literário conhecido como Geração do 98 (Generación del 98), que reuniu escritores, ensaístas e poetas espanhóis afetados pela crise moral, política e social vivida pela Espanha após a derrota militar na Guerra Hispano-Americana e a conseguinte
perda de Porto Rico, Cuba e as Filipinas, em 1 898. Todos os intelectuais reunidos neste grupo nasceram entre 1 864 e 1 87 5. Machado nasceu em Sev ilha a 26 de julho de 1 87 5 e logo foi viver e estudar em Madri. Em 1 893 publicou seus primeiros escritos em prosa e seus primeiros poemas apareceram em 1 901.
Viajou a Paris en 1 899, cidade que voltou a visitar em 1 902, ano em que conheceu Rubén Darío, de quem se tornou grande amigo durante toda sua vida e que foi seu introdutor no movimento modernista. Em Madri, na mesma época, conheceu Miguel de Unamuno, Valle-Inclán, Juan Ramón Jiménez e outros destacados escritores, com os quais manteve estreita amizade. Foi catedrático de Francês e se casou com Leonor Izquierdo, falecida em 1912. Em 1 927 foi eleito membro da Real Academia Espanhola da Língua. Durante os anos vinte e trinta escreveu peças de teatro em parceria com seu irmão Manuel, também poeta, encenando várias obras. Quando estalou a Guerra Civil espanhola, estava em Madri.
O movimento pelo qual começou sua vida literária era modernista, Mas ele seguiria um caminho próprio, de depurada simplicidade. Principalmente em sua poesia, o destaque é a natureza do homem e sua interioridade, onde busca a origem de suas ações e paixões. Seus versos mais conhecidos e que se popularizaram como adágio universal, (Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar…) fazem parte de uma coleção de cantos poéticos denominada Proverbios y Cantares com 53 estâncias. Suas principais obras: Poesia – Soledades, 1 903; Campos de Castilla, 1912; Nuevas Canciones, 1 925; La Guerra, 1 938. Teatro – Dom Juan de Mañara, 1 927 ; La Prima Fernanda, 1 929; La Lola se va a los Puertos, 1 929; La Duquesa de Benamejí, 1 931.
Já nos anos finais de sua v ida, se mudou para a Valencia e Barcelona e, em janeiro de 1 939, se exilou
na cidade francesa de Colliure, onde morreu, a 22 de fev ereiro.


"Poesias de Antonio Machado — Poucas obras poéticas são dignas do nosso amor como a do espanhol Antonio Machado (1875-1939). Cabe num pequeno volume, e é do tamanho do mundo. Ali estão os problemas da metafísica ocidental e oriental, a fé e a dúvida, as paixões e a sabedoria, o sentido do tempo e da eternidade, tudo comprimido em versos de uma simplicidade fulgurante, cuja perfeição ninguém sabe dizer se é musical ou geométrica.
Don Antonio viveu humildemente num quarto de pensão e morreu num quarto de hotel, fugindo da polícia política sem jamais ter sido político. Abençoou a pobreza digna (“a mi trabajo acudo…”) e, vendo aproximar-se a morte, fixou num pedaço de papel seu último pensamento: “Estos días azules y este sol de la infancia.” O fluxo do tempo que pelo milagre da luz se transfigura em eternidade na presença é uma de suas visões recorrentes: “Tedio infantil, amor adolescente, / cómo esta luz de otono os hermosea! / ¡Agrios caminos de la v ida fea / que también os doráis al sol poniente!” O ontem e o amanhã fundem-se no eterno presente: sob a claridade de Sevilha emerge do passado a imagem do pai que, passeando no jardim, lança um olhar no vazio e enx erga os cabelos brancos do filho poeta que no mesmo instante o evoca em seus versos. Um olmo seco, derrubado por um raio, renasce na imortalidade do poema antes que o serrem para queimá-lo nas lareiras. Amo tanto esse poema que, buscando nele dois versos para epígrafe de um capítulo, acabei por transcrevê-lo inteiro.
O espaço, por sua vez, se transfigura em memória
e profecia. O poeta caminha pelos campos de
Castela. As paisagens em sucessão tornam-se
glórias e misérias da Espanha histórica (“Castilla
miserable, ay er dominadora, envuelta em sus
andrajos desprecia cuanto ignora”) e despertam a
antevisão do castigo: “Al declinar la tarde, sobre
um remoto alcor, / veréis agigantarse la forma de
um arquero, / la forma de um inmenso centauro
flechador.” Mas nem tudo é perdição e morte.
Sobre os campos paira, ante os olhos de Deus,
“Castilla la gentil, humilde y brava”.
E, quando passam os anos, Don Antonio, que já era a clareza e a simplicidade encarnadas, torna-se ainda mais simples e claro, condensando sua mágica sabedoria em epigramas:
“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.”
“Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.”
Jamais serei grato o bastante ao poeta que inundou de luz tantos momentos sombrios da minha vida.'

(Olavo de Carvalho, filósofo e escritor brasileiro, 2004)

Proverbios y cantares.




I
Nunca persegui la gloria
ni de ar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el ciclo azul, temblar
subitamente y quebrarse.
I
Nunca persegui a glória
nem conservar na memória
dos homens minha canção;
eu amo os mundos sutis,
ingrávidos e gentis
como bolhas de sabão.
Gosto de vê-los pintar-se
de ouro e de carmim, voar
no céu azul, tremular
subitamente e quebrar-se.


XVI
El hombre es por natura la bestia paradójica,
un animal absurdo que necesita lógica.
Creó de nada un mundo y, su obra terminada,
"Ya estoy en el secreto - se dijo -, todo es nada."
XVI
O homem, por índole, é besta paradoxal,
precisa de lógica esse absurdo animal.
Criou do nada um mundo e, obra terminada,
"Já sei o segredo - se disse -, tudo é nada."


XXIII
No extrañéis, dulces amigos,
que este mi frente arrugada:
yo vivo en paz con los hombres
y en guerra con mis entrarias.
XXIII
Não estranhem, doces amigos,
esta minha testa enrugada:
eu vivo na paz com os homens
e em guerra com minhas entranhas.


MACHADO, Antonio. Proverbios y cantares. Provérbios e cantares. Tradução: Ronald Polito. Belo Horizonte: 2009. s.p. Plaquete comemorativa dos 70 anos da morte do poeta, 50 exs. Col. A.M. (EA)