segunda-feira, 25 de março de 2013

Os caminhos de Antônio Machado




Antonio Machado, dramaturgo e poeta espanhol, fez parte do movimento literário conhecido como Geração do 98 (Generación del 98), que reuniu escritores, ensaístas e poetas espanhóis afetados pela crise moral, política e social vivida pela Espanha após a derrota militar na Guerra Hispano-Americana e a conseguinte
perda de Porto Rico, Cuba e as Filipinas, em 1 898. Todos os intelectuais reunidos neste grupo nasceram entre 1 864 e 1 87 5. Machado nasceu em Sev ilha a 26 de julho de 1 87 5 e logo foi viver e estudar em Madri. Em 1 893 publicou seus primeiros escritos em prosa e seus primeiros poemas apareceram em 1 901.
Viajou a Paris en 1 899, cidade que voltou a visitar em 1 902, ano em que conheceu Rubén Darío, de quem se tornou grande amigo durante toda sua vida e que foi seu introdutor no movimento modernista. Em Madri, na mesma época, conheceu Miguel de Unamuno, Valle-Inclán, Juan Ramón Jiménez e outros destacados escritores, com os quais manteve estreita amizade. Foi catedrático de Francês e se casou com Leonor Izquierdo, falecida em 1912. Em 1 927 foi eleito membro da Real Academia Espanhola da Língua. Durante os anos vinte e trinta escreveu peças de teatro em parceria com seu irmão Manuel, também poeta, encenando várias obras. Quando estalou a Guerra Civil espanhola, estava em Madri.
O movimento pelo qual começou sua vida literária era modernista, Mas ele seguiria um caminho próprio, de depurada simplicidade. Principalmente em sua poesia, o destaque é a natureza do homem e sua interioridade, onde busca a origem de suas ações e paixões. Seus versos mais conhecidos e que se popularizaram como adágio universal, (Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar…) fazem parte de uma coleção de cantos poéticos denominada Proverbios y Cantares com 53 estâncias. Suas principais obras: Poesia – Soledades, 1 903; Campos de Castilla, 1912; Nuevas Canciones, 1 925; La Guerra, 1 938. Teatro – Dom Juan de Mañara, 1 927 ; La Prima Fernanda, 1 929; La Lola se va a los Puertos, 1 929; La Duquesa de Benamejí, 1 931.
Já nos anos finais de sua v ida, se mudou para a Valencia e Barcelona e, em janeiro de 1 939, se exilou
na cidade francesa de Colliure, onde morreu, a 22 de fev ereiro.


"Poesias de Antonio Machado — Poucas obras poéticas são dignas do nosso amor como a do espanhol Antonio Machado (1875-1939). Cabe num pequeno volume, e é do tamanho do mundo. Ali estão os problemas da metafísica ocidental e oriental, a fé e a dúvida, as paixões e a sabedoria, o sentido do tempo e da eternidade, tudo comprimido em versos de uma simplicidade fulgurante, cuja perfeição ninguém sabe dizer se é musical ou geométrica.
Don Antonio viveu humildemente num quarto de pensão e morreu num quarto de hotel, fugindo da polícia política sem jamais ter sido político. Abençoou a pobreza digna (“a mi trabajo acudo…”) e, vendo aproximar-se a morte, fixou num pedaço de papel seu último pensamento: “Estos días azules y este sol de la infancia.” O fluxo do tempo que pelo milagre da luz se transfigura em eternidade na presença é uma de suas visões recorrentes: “Tedio infantil, amor adolescente, / cómo esta luz de otono os hermosea! / ¡Agrios caminos de la v ida fea / que también os doráis al sol poniente!” O ontem e o amanhã fundem-se no eterno presente: sob a claridade de Sevilha emerge do passado a imagem do pai que, passeando no jardim, lança um olhar no vazio e enx erga os cabelos brancos do filho poeta que no mesmo instante o evoca em seus versos. Um olmo seco, derrubado por um raio, renasce na imortalidade do poema antes que o serrem para queimá-lo nas lareiras. Amo tanto esse poema que, buscando nele dois versos para epígrafe de um capítulo, acabei por transcrevê-lo inteiro.
O espaço, por sua vez, se transfigura em memória
e profecia. O poeta caminha pelos campos de
Castela. As paisagens em sucessão tornam-se
glórias e misérias da Espanha histórica (“Castilla
miserable, ay er dominadora, envuelta em sus
andrajos desprecia cuanto ignora”) e despertam a
antevisão do castigo: “Al declinar la tarde, sobre
um remoto alcor, / veréis agigantarse la forma de
um arquero, / la forma de um inmenso centauro
flechador.” Mas nem tudo é perdição e morte.
Sobre os campos paira, ante os olhos de Deus,
“Castilla la gentil, humilde y brava”.
E, quando passam os anos, Don Antonio, que já era a clareza e a simplicidade encarnadas, torna-se ainda mais simples e claro, condensando sua mágica sabedoria em epigramas:
“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.”
“Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.”
Jamais serei grato o bastante ao poeta que inundou de luz tantos momentos sombrios da minha vida.'

(Olavo de Carvalho, filósofo e escritor brasileiro, 2004)

Nenhum comentário:

Postar um comentário