Um dos poemas mais divulgados de António Machado concentra interessante conteúdo filosófico. A lembrar, por exemplo, a questão da prioridade essência/existência.
Caminante, son tus huellas el camino, y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en la mar. | Caminhante, são teus rastos o caminho, e nada mais; caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar. Ao andar faz-se o caminho, e ao olhar-se para trás vê-se a senda que jamais se há-de voltar a pisar. Caminhante, não há caminho, somente sulcos no mar. |
O poema transcrito faz parte de um conjunto de provérbios e cantares. Uma selecção de mais alguns do mesmo conjunto:
XXI Ayer soñé que veía a Dios y que a Dios hablaba; y soñé que Dios me oía... Después soñé que soñaba. XXXVII ¿ Dices que nada se crea? No te importe, con el barro de la tierra, haz una copa para que beba tu hermano. XXXVIII ¿ Dices que nada se crea? Alfarero, a tus cacharros. Haz tu copa y no te importe si no puedes hacer barro. XLII ¿ Dices que nada se pierde? Si esta copa de cristal se me rompe, nunca en ella beberé, nunca jamás. XLVI Anoche soñé que oía a Dios, gritándome: ¡ Alerta! Luego era Dios quien dormía, y yo gritaba: ¡ Despierta! | XXI Ontem eu sonhei que via Deus e que a Deus falava; e sosnhei que Deus me ouvia... Depois sonhei que sonhava... XXXVII Dizes que nada se cria? Não te importes, e com o barro da terra faz uma taça para que beba teu irmão. XXXVIII Dizes que nada se cria? Oleiro, mãos ao trabalho! Faz teu copo e não te importe se não podes fazer barro. XLII Dizes que nada se perde? Se esta taça de cristal se me partir, nunca nela eu beberei, nunca mais. XLVI À noite sonhei que ouvia Deus, que me gritava: Alerta! Depois Deus adormecia e eu gritava: Desperta! |
O sonho. O sonho é o "pano de fundo" de um dos poemas de António Machado de que mais gosto. Com referências filosóficas evidentes num invólucro poeticamente delicioso. Ou não fosse uma parábola...
Era un niño que soñaba un caballo de cartón. Abrió los ojos el niño y el caballito no vio. Con un caballito blanco el niño volvió a soñar; y por la crin lo cogía... ¡ Ahora no te escaparás! Apenas lo hubo cogido, el niño se despertó. Tenia el puño cerrado. ¡ El caballito voló! Quedóse el niño muy serio pensando que no es verdad un caballito soñado. Y ya no volvió a soñar. Pero el niño se hizo mozo y el mozo tuvo un amor, y a su amada le decía: ¿ Tú eres de verdad o no? Cuando el mozo se hizo viejo pensaba: todo es soñar, el caballito soñado y el caballo de verdad. Y cuando vino la muerte, el viejo a su corazón preguntaba: ¿ Tú eres sueño? ¡ Quién sabe si despertó! | Era um menino a sonhar com um cavalo de cartão. O menino abriu os olhos e não vui o cavalinho. Com um cavalinho branco ele voltou a sonhar; pelas crinas o prendia... Assim não te escaparás! Mal o conseguiu prender, logo o menino acordou. Tinha a sua mão fechada. O cavalinho voou! O menino ficou sério, pensando não ser verdade um cavalinho sonhado. Já não voltou a sonhar. E o menino fez-se moço e o moço teve um amor, e dizia à sua amada: Tu és de verdade ou não? Quando o moço se fez velho pensava: Tudo é sonhar, o cavalinho sonhado e o cavalo de verdade. E quando chegou a morte, o velho ao seu coração perguntava: Tu és sonho? Quem saberá se acordou! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário