sexta-feira, 19 de outubro de 2012

CAMPOS DE SORIA




I
Es la tierra de Soria árida y fría.
Por las colinas y las sierras calvas,
verdes pradillos, cerros cenicientos,
la primavera pasa
dejando entre las hierbas olorosas
sus diminutas margaritas blancas.
La tierra no revive, el campo sueña.
Al empezar abril está nevada
la espalda del Moncayo;
el caminante lleva en su bufanda
envueltos cuello y boca, y los pastores
pasan cubiertos con sus luengas capas.
IV
¡Las figuras del campo sobre el cielo!
Dos lentos bueyes aran
en un alcor, cuando el otoño empieza,
y entre las negras testas doblegadas
bajo el pesado yugo,
pende un cesto de juncos y retama,
que es la cuna de un niño;
y tras la yunta marcha
un hombre que se inclina hacia la tierra,
y una mujer que en las abiertas zanjas
arroja la semilla.
Bajo una nube de carmín y llama,
en el oro fluido y verdinoso
del poniente, las sombras se agigantan.
VIII
He vuelto a ver los álamos dorados,
álamos del camino en la ribera
del Duero, entre San Polo y San Saturio,
tras las murallas viejas
de Soria — barbacana
hacia Aragón, en castellana tierra.
Estos chopos del río, que acompañan
con el sonido de sus hojas secas
el son del agua, cuando el viento sopla,
tienen en sus cortezas
grabadas iniciales que son nombres
de enamorados, cifras que son fechas.
¡Álamos del amor que ayer tuvisteis
de ruiseñores vuestras ramas llenas;
álamos que seréis mañana liras
del viento perfumado en primavera;
álamos del amor cerca del agua
que corre y pasa y sueña,
álamos de las márgenes del Duero,
conmigo vais, mi corazón os lleva!
IX
¡Oh, sí, conmigo vais, campos de Soria,
tardes tranquilas, montes de violeta,
alamedas del río, verde sueño
del suelo gris y de la parda tierra,
agria melancolía
de la ciudad decrépita.
Me habéis llegado al alma,
¿o acaso estabais en el fondo de ella?
¡Gentes del alto llano numantino
que a Dios guardáis como cristianas viejas,
que el sol de España os llene
de alegría, de luz y de riqueza!



CAMPOS DE SORIA
I
É a terra soriana árida e fria.
Pelas colinas, pelas serras calvas,
verdes campinas, outeiros cinzentos,
a primavera passa
deixando em meio às ervas olorosas
suas pequenas margaridas alvas.
A terra não revive, o campo sonha.
Quando começa abril, está nevada
a espádua do Moncaio;
o caminhante leva em sua manta
pescoço e boca envoltos, e os pastores
passam cobertos com suas longas capas.
IV
As figuras do campo sobre o céu!
Dois bois morosos aram
numa colina, quando o outono chega,
e entre as negras cabeças dominadas
sob o pesado jugo,
pende um cesto de juncos e retama,
que é o berço de um bebê;
e atrás da junta avança
um homem que se inclina para a terra,
e uma mulher que nas abertas valas
atira uma semente.
Sob uma nuvem de carmim e chama,
no ouro fluido e esverdeado
do pôr-do-sol, as sombras se agigantam.
VIII
Voltei a ver os álamos dourados,
álamos do caminho na ribeira
do Douro, entre São Polo e São Satúrio,
atrás dos muros velhos
de Soria — barbacã
frente a Aragão, em castelhana terra.
Estes choupos à margem, que acompanham
com o ruído de suas folhas secas
o som das águas, quando o vento sopra,
que nas cascas conservam
iniciais gravadas que são nomes
de casais, cifras que são dias, meses.
Ó álamos do amor que ontem tivestes
de rouxinóis os vossos galhos cheios;
álamos que amanhã sereis as liras
do vento cálido da primavera;
ó álamos do amor à beira d’água
que corre e passa e anseia,
ó álamos das margens do rio Douro,
comigo ireis, meu coração vos leva!
IX
Oh, sim, comigo ireis, campos de Soria,
tardes tranqüilas, montes de violeta,
alamedas do Douro, verde sonho
do solo cinza e desta parda terra,
acre melancolia
da cidade decrépita,
chegastes à minha alma,
ou estáveis quiçá no fundo dela?
Gentes da alta planura numantina
que a Deus guardais como devotas velhas,
que o sol da Espanha cubra-vos
de alegria, de luz e de riqueza!




A imagem dos pastores cobertos por suas longas capas, que fecha o primeiro poema, é típica da região castelhana: “Nesse clima extremado por ambos os extremos, onde tão violentamente passa-se do calor ao frio e da seca ao aguaceiro, o homem inventou a capa, que o isola do ambiente e cria uma atmosfera pessoal, regularmente constante em meio às oscilações exteriores, defesa contra o frio e o calor ao mesmo tempo”.
O Moncaio é um monte situado ao norte de Soria, na fronteira entre Aragão e Castela a Velha.
São Polo e São Satúrio são ermidas situadas às margens do Douro, junto a Soria.
Numancia, antiga cidade habitada pelos arévacos, foi destruída pelo exército romano em 133 a.C., após um assédio de nove meses. Os numantinos preferiram morrer a entregar a cidade, que depois de vencida foi incendiada. Suas ruínas situam-se a sete quilômetros de Soria.

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