terça-feira, 30 de outubro de 2012
O ENTERRO DE UM AMIGO
Jogaram-lhe a terra numa tarde horrível
do mês de julho, sob o sol de fogo.
A um passo da sepultura aberta
havia rosas de pétalas apodrecidas,
entre gerânios de áspera fragrância
e flor rubra. O céu
puro e azul. Corria
um ar forte e seco.
Suspenso por cordas grossas,
os dois coveiros
fizeram descer pesadamente
o caixão ao fundo da fossa.
E, ao cair; soou com um baque duro,
solene, no silêncio.
Um baque de caixão na terra é algo
perfeitamente sério.
Sobre a caixa negra quebravam-se
os pesados grãos poeirentos.
O ar erguia
da funda fossa o sopro embranquecido.
E tu, já sem sombra, dorme e repousa.
Longa paz a teus ossos.
Definitivamente,
dorme um sono tranquilo e verdadeiro.
António Machado
Tradução de Sebastião Uchoa Leite
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