sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Faz escuro mas eu canto

LOS  ESTATUTOS  DEL  HOMBRE

Artículo 1


Queda decretado
que ahora vale la vida,

que ahora vale la verdad,
y que de manos dadas
trabajaremos todos

por la vida verdadera. 



Artículo 2


Queda decretado
que todos los días de la semana,

inclusive los martes
más grises, tienen derecho
a convertirse en mañanas
de domingo. 



Artículo 3


Queda decretado que,
a partir de este instante,

habrá girasoles en todas las ventanas,
que los girasoles tendrán derecho 
a abrirse dentro de la sombra;
y que las ventanas deben permanecer

el día entero abiertas para el verde
donde crece la esperanza.  



Artículo 4


Queda decretado que el hombre
no precisará nunca más
dudar del hombre.
Que el hombre confiará en el hombre
como la palmera confía en el viento,
como el viento confía en el aire,
como el aire confía en el campo azul

del cielo. 


El hombre confiará en el hombre
como un niño confía en otro niño.



Artículo 5
Queda decretado que los hombres

están libres del yugo de la mentira.
Nunca más será preciso usar
la coraza del silencio
ni la armadura de las palabras.
El hombre se sentará a la mesa
con la mirada limpia,
porque la verdad pasará a ser servida
antes del postre.


Artículo 6


Queda establecida,
durante diez siglos,

la práctica soñada por el profeta Isaías,
y el lobo y el cordero pastarán juntos
y la comida de ambos

tendrá el mismo gusto a aurora.



Artículo 7


Por decreto irrevocable
queda establecido el reinado permanente
de la justicia y de la claridad.
Y la alegría será una bandera generosa 
para siempre enarbolada
en el alma del pueblo.




Artículo 8


Queda decretado
que el mayor dolor

siempre fue y será siempre
no poder dar amor

a quien se ama,

sabiendo que es el agua 
quien da a la planta

el milagro de la flor.



Artículo 9


Queda permitido
que el pan de cada día

tenga en el hombre
la señal de su sudor.

Pero que sobre todo
tenga siempre

el caliente sabor
de la ternura.



Artículo 10

Queda permitido
a cualquier persona,

a cualquier hora de la vida,
el uso del traje blanco.



Artículo 11


Queda decretado,
por definición,

que el hombre
es un animal que ama,

y que por eso es bello,
mucho más bello

que la estrella de la mañana. 



Artículo 12


Decrétase que nada
estará obligado ni prohibido.

Todo será permitido,
inclusive jugar con los rinocerontes
y caminar por las tardes
con uma inmensa begonia em la solapa.

Sólo uma coisa queda prohibida:
amar sin amor.


Artículo 13

Queda decretado que el dinero
no podrá nunca más comprar el sol
de lãs mañanas venideras.
Expulsado del gran bául del miedo,
el dinero se transformará
en una espada fraternal
para defender el derecho de cantar
y la  fiesta del día que llegó.
.

Artículo final

Queda prohibido
el uso de la palabra libertad,
la cual será suprimida de los diccionarios
y del pantano engañoso de las bocas.
A partir de este instante
la libertad será algo vivo y transparente,
como um fuego o un río,
o como la semilla del trigo
y su morada será siempre
el corazón del hombre.


(Tradução de Pablo Neruda, conforme constante em
Os Estatutos do Homem, Vergara & Riba Editoras, 2001) 


OS ESTATUTOS DO HOMEM

Poema que escrevi em 1964,                              
em protesto contra terror da ditadura militar.   
É dedicado a Car/os Heitor Cony


Artigo I.

Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida
e que, de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.


Artigo II.

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


Artigo III.

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.


Artigo IV.

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.


Artigo V.

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.


Artigo VI.

Fica estabelecida, durante os milênios da vida,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.


Artigo VII.

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridão,
e a esperança será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.


Artigo VIII.

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar amor a quem se ama
sabendo que é a água
que dá à planta o milagre da flor.


Artigo IX.

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal do seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.


Artigo X.

Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.


Artigo XI.

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo do que a estrela da manhã.

Artigo XII.

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.


Artigo XIII.

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.


Artigo final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo, um rio,
como a semente do trigo
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

(Poema retirado do livro "Faz escuro mas eu canto - Thiago de Mello - 17ª edição - 1999


É preciso trabalhar
todos os dias
pela alegria geral.
É preciso aprender
esta lição todos os dias
e sair pelas ruas
cantando e repartindo
a esperança,
a mão cristalina,
a fronte fraternal.

Amadeu Thiago de Mello (Barreirinha, 30 de março de 1926) é um poeta brasileiro.
Natural do Estado do Amazonas, é um dos poetas mais influentes e respeitados no pais, reconhecido como um ícone da literatura regional.
Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo.
No exílio, morou na Argentina, Chile, Portugal, França, Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal, Barreirinha, onde vive até hoje.
Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, onde o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. Seu livro Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida rendeu-lhe, em 1975, ainda durante o regime militar, prêmio concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e tornou-o conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.
Em homenagem aos seus 80 anos, completados em 2006, foi lançado, pela Karmim, o CD comemorativo A Criação do Mundo, contendo poemas que o autor produziu nos últimos 55 anos, declamados por ele próprio e musicados por seu irmão, Gaudêncio Thiago de Mello, O rei do futebol.

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